quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O nosso primeiro audiolivro!

Para quem não pode ler ou ainda não sabe...
Espero que gostem!

"O Soldado João", de Luísa Ducla Soares, lido por Diogo Nogueira, 2º ano.


Audiolivro 1 da Vagueira





O Soldado João

Era uma vez um soldado chamado João. Vinha de sachar milho, de regar cravos, de semear couves e manjericos.

Agora, toca a marchar, de espingarda ao ombro, mochila às costas, botas de cano, farda a rigor.

Pelos campos fora, o soldado João era a vergonha dos batalhões. Trazia uma flor ao peito, punha as mãos nas algibeiras, coçava o nariz, não acertava o passo. E, para cúmulo, assobiava ou cantava modinhas da sua aldeia.

Bem lhe ralhava o sargento, o ameaçava o capitão, o castigava o general.

O soldado João continuava a marchar, feliz e desengonçado, como se fosse à feira comprar gado ou ao mercado vender feijão.

Mas tanto, tanto marchou o soldado João, que chegou à terra da guerra.

Todos os soldados carregaram as espingardas e fizeram pontaria. Mas o soldado João achou indelicado não ir cumprimentar os colegas da outra banda. Pousou a arma, saltou a trincheira, avançou estendendo a mão.

Então, os outros soldados, espantados, estenderam também a mão.

— Fogo! — gritava o sargento.

— Disparem! — mandava o capitão.

— Atirem! — ordenava o general.

Mas os soldados eram tantos que demorava muito tempo a cumprimentá-los. Foi o sargento buscar o soldado João, dizendo:

— Rapaz, não te lembras de que te ensinei que a guerra é para matar? Vou pôr-te a corneteiro, já que não tens jeito para atirador.

O soldado João pegou na corneta, ei-lo a soprar, e logo o fandango ecoou pelos campos fora, convidando à dança.

Sapateava a tropa, rodopiava, batia palmas.

— Alto! — gritava o sargento.

— Basta! — mandava o capitão.

— Parem! — ordenava o general.

Arrancou o sargento a corneta ao soldado João e, zangado, explodiu:

— Vais para cozinheiro do exército. Ao menos aí não empatarás a guerra.

Mal chegou à cozinha, foi buscar café. Arrastava pelas fileiras, fumegando, o enorme panelão, apetitoso, perfumado.

Aproximava-se de cada soldado, tirava-lhe o capacete para fazer de malga, despejava-lhe uma concha de café. Amigos e inimigos, todos se deliciavam com tão inesperado pequeno-almoço.

— Ao vosso lugar! — gritava o sargento.

— A postos! — mandava o capitão.

— Perfilar! — ordenava o general.

Tiraram a panela ao soldado João, enrolaram-no numa bandeira da cruz vermelha, dizendo:

— Já não és atirador, nem corneteiro, nem cozinheiro. Daqui por diante, és enfermeiro militar.

Mal se viu na nova função, ei-lo a correr à procura de feridos.

Viu um tenente com um olho negro e foi tratá-lo.

Viu um furriel com uma picada de abelha e, num instante, lhe arrancou o ferrão.

Notou que os dois generais inimigos coxeavam ligeiramente, descalçou-lhes as botas e pôs-se a tirar-lhes os calos.

Então, o incrível aconteceu.

Os dois generais levantaram-se ao mesmo tempo e condecoraram-no com duas luzentes medalhas de ouro.

Como era noite, acharam que já passara o tempo da guerra, apertaram as mãos e partiram em paz.

O soldado João sete dias andou até chegar à sua aldeola, onde de novo sacha milho, rega cravos, semeia couves e manjericos.

Luísa Ducla Soares
O soldado João
Porto, Editora Civilização, 2002


Nota: Agora, já sabes como termina.